Ilustração: Rossana Bastos-Krohmer |
Marina ouvia os barulhos cada vez mais ruidosos que vinham das quadras próximas a sua casa, gritos, sirenes da polícia, explosões. Durante a pandemia, apesar das incertezas e ansiedade do momento, estava em segurança em sua casa em home office.
Envolvida em seu trabalho ajudava dezenas de projetos de educação voltados para jovens em situação de vulnerabilidade em comunidades ao redor do mundo.
Ela mesma imigrante em um país rico, cresceu numa dessas inúmeras comunidades. Sem chances, a única da família a estudar e, milagrosamente, se formar. Seus amigos de infância quase todos mortos de bala ou vício, no tráfico ou pela polícia. Suas amigas engravidaram cedo e nunca tiveram chance. Não muito diferente do que ocorria no país onde morava agora.
Ilustração: Rossana Bastos-Krohmer |
Marina, era uma sobrevivente. Nunca esquecera, pois, impossível. Negra, trazia na pele a cor da luta de quem teve que enfrentar um sistema feito pra moer gente, como ela.
Nas últimas semanas a angústia, dor e a revolta se tornaram insuportáveis pelas notícias das estatísticas inaceitáveis de negros pobres vítimas da doença. Dois dias atrás um negro pobre fora brutalmente morto pela polícia por motivo nenhum. A revolta tomou as ruas, como também a repressão violenta. Injustiça e opressão eram velhas conhecida sua e de sua gente, em todos os lugares.
O barulho do protesto chegara à porta do seu prédio.
Marina foi para as ruas lutar por justiça.
Cidade do México
Quarentena