E há lua no céu...
"DAVE BOWMAN: You see, something's going to happen. You must leave. HEYWOOD FLOYD: What? What's going to happen? DAVE BOWMAN: Something wonderful" (2010: The Year We Make Contact)
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Tom Waits - Watch Her Disappear (Wong Kar Way)
Hong Kong Express, (Wong Kar Way, 1994)
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Sob Chuva
terça-feira, 25 de setembro de 2012
De Gravidade Infinita
Ela não
sabia ou parecia delicadamente ignorar o quanto sua presença o desestabilizava.
A voz dela, não sem algum grau de malícia, naquele tom suave, quase de menina,
pronunciava seu nome como um diminutivo único. Ele, quase apelava em súplicas
pra si, não correspondidas claro, para ouvir aquilo se repetindo durante um dia
inteiro, ou, pelo menos, mais uma vez. Mais uma vez era a senha do ciclo que
parecia não querer se completar de coisas que parecem querer sempre parecer o
oposto, ou o distante, quando são na verdade, o que aparentam. Assim, como
manteiga derretendo no pão quentinho, algo que não pode ser negado por nenhuma
filosofia, além do que indica o cheiro de fome prestes a ser saciada. Não sabia
por onde andava durante todo o tempo que demoraram a se ver, na verdade não o interessava.
Tudo se resumia ao encontro, o agora como realização de um micro conto de algum
blog pouco lido, meio adolescente, falando de amores impossíveis, sentimentos
contraditórios e pessoas que não podem ficar juntas.
Neste dia
eles não se viram sob o Sol, rodando sem rumo e falando trivialidades em alguma
rua da cidade, ou mesmo em alguma casa de algum conhecido comum. A companhia tocara inadvertidamente. Susto, pois tinha
estranheza a visitas, sobretudo as imprevistas. Ninguém o visitava. Quando ela
identificou-se, o ímpeto de liberar imediatamente a porta confundiu-se com a
surpresa quase surreal daquele momento. Ela em sua casa! Embora achando que seria
capaz, e um dia o fizesse, nunca o realizaria. Ledo engano fê-lo, ela estava
ali. Ela estava ali e iria falar o nome dele daquela forma, e o olharia com
aquele olhar de ternura que esconde algo que não pode ser revelado, não
obstante, claro como um cristal. Aquele olhar quente, escuro brilhante,
profundo, que tão bem refletia o mundo de uma forma diferente, o jeito dela.
Nessa primeira vez, pelo menos ali, em seu território, nem os livros, nem a
cama, nem cadeiras, nada se prendia mais ao chão. Tudo parecia convergir pra
ela, aquele ponto de fuga de gravidade infinita e cabelos soltos ao tempo.
Ela estava
ali como uma primeira vez de todas as vezes que tudo deveria ter acontecido
desde o princípio dos tempos, bastou um passo para nada mais ficar no lugar. Em
uma foto que lhe enviou uns dias depois da insólita visita, dizia-lhe apenas um
“eu te amo”, assim, a flor da pele, binário, único na necessidade de dizer algo
que não se apagará, mesmo à distância.
Mesmo que não pudesse mais dizê-lo.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Novamente, uma madrugada qualquer
Bill Brandt |
Naquela madrugada andava devagar pelas ruas estreitas
da cidade baixa, quase se arrastava. Os pés moviam-se sem vontade enquanto
buscava apoio nas paredes. Sua mão seguia os contornos, reentrâncias e
saliências das paredes cheias de musgo e umidade. Estas lhe diziam do asco que
algumas situações podiam lhe causar. Esse era um daqueles dias que se repetiam
a tanto tempo, de nojo do mundo, da perda da fé que pouco tivera, e da limitante
incapacidade de aceitar a realidade. Dia de lembrar-se da injuria, infâmia,
injustiça, medo. Da vontade de esquecer que seu espírito estava quebrado, sua vontade agora dormitava
um sono eterno, sua alma vagava.
Sentou-se no meio fio, a chuva caia através de si,
isso já não lhe trazia surpresa. Fazia três meses ou três anos que estivera ali
pela última vez? Não fazia diferença, as coisas não mudavam, como sempre, as
ruas estavam desertas, os carros não passavam, ninguém nas janelas, ninguém a
via. Ninguém a vista. Seu coração, se tivesse, estaria lhe falando baixinho de
beijos e entrelaçar de mãos, toques inesquecíveis, descobertas improváveis, de
esperanças e alegrias sem fim, coisas de muitos dias (anos?) atrás. Sussurrando:
“Onde estariam todas as coisas boas do mundo?”.
Naquele momento perto da madrugada permitiu-se,
cansada, deitar seu corpo sob uma marquise. Não conseguia mais
lembrar quem era ou que lhe fazia pensar sobre todas aquelas coisas, buscava
algo que não podia entender num mundo deserto que parecia dormir só para ela,
queria de novo seu sorriso de volta, sem ao menos entender aonde teria ido.
Logo depois de adormecer novamente, desapareceu no
ar, misturou-se outra vez a falta de sentido que os sonhos trazem consigo
quando se tornam pesadelos, e com as estórias secretas que os corações escondem
pra sempre quando partem e viram lenda num outro mundo qualquer onde o amor se
retirou sem deixar pistas de si.
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Um beijo no futuro
- Escreva como se não houvesse amanhã!
Disse para si mesma naquela manhã de domingo. Havia uma urgência de fim de mundo em dizer para aquele moço tudo aquilo que há tempos trazia engasgado a menos de meio centímetro do coração, uma pressa de ontem e saudade de algo que poderia ter sido, dessas que parecem com a vontade impossível de bolo de chocolate com maracujá numa madrugada qualquer quando tudo mais está fechado e a sede se confunde com os ponteiros engessados do relógio de parede.
Não sabia exatamente por que ele, nem tão pouco porque nesta manhã, diferente de todas as outras desde que o conheceu, mas o fato nesse momento de não encontrar seu bloco de notas a afligia:
- E se perdesse a ideia? E perdendo a ideia perdesse o cheiro do abraço dele?
Não podia se dar ao luxo, perder era uma palavra proibida por aqueles dias, encontrou seu bloco amarelo, que trouxera de uma dessas viagens marcantes pra um desses lugares que tanto sonhara. Caneta, começar a escrever... Pra ele? Pra si? Um registro? Uma revelação? Uma declaração? Ou um desabafo? Um roteiro ou um poema? Nunca soubera o momento, sempre se mostrara uma mulher de ação, fazer antes, pensar depois, menina afoita que roubava a bola dos meninos, desde sempre! Por que escrever agora? Mas o momento pedia escrita, o preto no branco do papel, a cor que marcaria uma história, o marco zero, sobre o bidimensional fantasmagoricamente vazio daquela folha...
Mas não escreveu pra ele, mas como se fosse. Escreveu para um passado remoto de um romantismo idealizado no qual as dores foram todas substituídas por lembranças de chocolate amargo com menta e para um futuro de cinema em 3D. Falou de fortes cores imitando Almodôvar, quentes como o verão, derretendo a pele numa ficção de várias metragens, durações curtas a infinitas, nas quais a marca suave da sua caneta deixaria na pele dele aquela cor que ela mais amava, como um beijo.
Escreveu como se torcesse que ele a lesse mesmo antes da postagem, mesmo antes de ter nascido, antes de ter feito a primeira coisa na vida da qual se arrependesse.
Lesse com a vontade de quem abraça depois de tantos dias de espera, e como se a vida de fato pudesse ter um final feliz.
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Chove Sobre a Normandia (um conto de guerra)
A resposta à sua carta já demorava uma eternidade
para chegar. Naqueles dias de guerra, o medo estava preso às cortinas na hora
do toque de recolher, parecia se insinuar no cheiro da sopa rala da janta
solitária. Nesses dias de verão, incomuns, a chuva constante e o frio marcante deixavam mais cinza os corações que amargavam a expectativa que alguma
coisa mudasse no mundo, aparentemente, em vão, como tudo mais. Viver a
esperança da chegada da próxima carta era a única que a sustentava, mais do que
a expectativa de vê-lo cruzar a soleira da sala novamente.
Enquanto houvesse
cartas haveria esperança, a qual nada mais podia dá-la naquele momento, nem a
fé e orações, nem o trabalho ensandecido na fábrica de munições, nada. A guerra
corroia-lhe a alegria, despojava-a de sua humanidade, a guerra era o próprio
mal. Seu único suporte naqueles dias cinzentos eram algumas lembranças que,
quando invocadas, provocavam um tipo de choro implosivo, assim, como se um
profundo poço sem fundo a sugasse com uma gravidade infinita.
Uma dessas lembranças dava-se nos dias felizes
anteriores a guerra, as notícias de que tropas hostis haviam cruzado a
fronteira de um país longínquo parecia exatamente isso, uma narrativa de fatos
absolutamente insignificantes, frente ao desfecho da ultima festa do verão, quando
se conheceram. Ela havia ido aquela festa com o seu vestido mais bonito, preto
com azul marinho, os sapatos estavam lustrados e o rosto com a maquiagem
discreta, nada que não comportasse um batom vermelho vivo, típico das garotas
mais descoladas do centro da cidade. Havia muita energia pairando sobre todos
naquela noite, os rumores falavam sobre convocação dos rapazes para a guerra. As
moças temiam por seus amores, outras, que não os encontrasse. Havia pressa no
ar. O viu chegar sozinho, já o conhecia de outros momentos, mas apenas de vê-lo
passar ao longe. Não era exatamente um estranho, mas pouco ou nada se falaram
das outras vezes que se viram. Nessa noite de tantas expectativas e ansiedades
não foi surpresa se virem perto e tentando tabular qualquer conversa sobre
algum conhecido em comum.
Ele, jovem tímido em primeiro momento, porém de
sorriso aberto, com disposição incomum para a conversa, diferente dos outros
rapazes do interior que tivera a oportunidade de conhecer anteriormente. Em
poucos momentos estavam dançando, mesmo sendo ele alegremente patético tentando
acompanhá-la em qualquer passo que fosse. Riram-se, riram-se absurdamente,
quase como se não houvesse um dia de amanhã. Em meio a uma risada longa no fim
da noite, o rosto dela paralisou-se por quatro ou cinco segundos, seus olhos
fitaram o dele, e ele nesse momento, parou de falar. Nunca suas bocas estiveram
tão próximas. Ele avançou, beijo-a, ela ensaiou um falsete de fuga, meio centímetro
pra esquerda, uma dificuldade última e fugidia pra justificar pra si própria a
conquista. Nada mais existia.
Voltaram para casa com a sensação que algo na ordem
daquele tempo havia decididamente sido alterada, eles não se cabiam naquele
tempo que agora parecia ser interminável entre o agora o momento do próximo
encontro, impreciso.
As noticias naquela manhã opaca pelo rádio diziam de
uma grande invasão por mar. Sabia que seu marido deveria estar fazendo parte
daquilo. O noticiário falava de uma chuva de obuses na resistência à invasão.
Chovia sobre a Normandia...
Mais duas semanas sem notícias. Até que a tão esperada
e temida carta chegou. A visão do selo oficial no envelope atravessou-lhe o
coração como um punhal absurdamente gélido. O texto formal e frio, além das
condolências, falou-lhe que ele desaparecera em combate na praia de Omaha,
França, em 06 de junho de 1944...
O tempo deles acabara-se, como aquela chuva sobre
uma praia triste distante tingida de rubro. Apenas o primeiro beijo deles
permaneceu no infinito.
Woody Allen - Manhattan (ending)
Como tudo na vida...
"Aquele olhar! Como na cena 'daquele filme' de Woody Allen que ela tanto gostava" (Um Conto Curto, ou uma Novela? 02.09.12)
"Aquele olhar! Como na cena 'daquele filme' de Woody Allen que ela tanto gostava" (Um Conto Curto, ou uma Novela? 02.09.12)
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Série Cartas e Cinema (4): Nunca te vi, sempre te amei (84 Sharing Cross Road)
Helene Hanfff: [written in a letter to Frank] "I can never get interested in thing that didn't happen to people who never lived."
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domingo, 9 de setembro de 2012
Sobre Cartas e Erros
Praça Rio Branco, João Pessoa-PB |
Naqueles dias a garota de riso fácil e olhar
faiscante, com jeito de sambinha no fim da tarde de sábado, estava distante e
triste. Pelo que via, quando ela passava pela rua, havia algo diferente, como se
naquele momento a vida houvesse tirado repentinamente aquele rock que parecia
tocar no fone de ouvido invisível que sempre a acompanhava e que transformava
sua passagem em clima de festa. E assim, nessa seriedade, o momento do encontro
com ela, parecia agora algo sério, soturno como um blues, dolente de tão lindo,
pois que até a tristeza, era capaz de inspirar quando ela chegava.
Havia algo errado. Não, aqueles encontros já não
correspondiam ao que seria razoável esperar de tanta alegria que seguia até pouco
os passos dela, daquilo que fazia sua assinatura, mais, o rosto mais feliz
quando dizia alto o nome dele. Mas ai estava o problema, ele não sabia, mas a
vida não era assim tão razoável. Certa noite ele já havia experimentado uma
pequena porção das formas desconcertantes através das quais a realidade pode dar
diversos olés nas nossas expectativas e dizer ao que veio de uma forma absurda.
Mas não daquela forma, era demais! Não da forma como os fatos foram expostos a
ele e do que pôde entender daquele bilhete lido tão tarde da madrugada, quando
chegava bêbedo de algum bar.
As repetidas leituras das mesmas parcas linhas não
ajudaram a esclarecer nenhum sentido, e pensava: “aquilo não podia estar
acontecendo com ela!” A cada frase do que podia ser dito em um espaço tão exíguo,
pensava nos dias que ela ainda passará sobre efeito daquelas circunstâncias.
Queria falar-lhe, mas não tinha como chegar até ela,
pensou em escrever-lhe e aventurou-se numa carta na qual ficasse claro seu
apreço, preocupação... Enfim, todos os adjetivos que podia agrupar para
falar-lhe daquele amor instantâneo quando ela cruzava a praça, no momento que
parava e acenava-lhe como se lesse seus pensamentos.
Queria aquele sorriso no rosto dela novamente. Ansiava
por conseguir escrever uma carta pra moça de ricos lábios carmim que dissesse
as coisas certas, as flores e estrelas cadentes que acompanham as missivas inesperadas e que nos falam de mundos atrás de mundos, e da necessidade que ela
estivesse de volta e que a convencesse de que as dores e sustos do mundo não
passassem apenas de “PS’s”, para lembrar que o mais importante já havia
sido dito nas linhas acima. E que o mundo erra, e que às vezes os “mesmos erros”
são as repetições involuntárias de coisas que já não nos dizem mais repeito.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Frente ao Mar, em Sampa
Em São Paulo. Ao longe via uma longa avenida. Parecia não ter fim. Me perdi mais uma vez, estranhado pelo furta cor de prédios, por traços retos, sobrados trabalhados, curvas mal feitas as quais seguindo me achei em detalhes de uma praça verde. Me assustei com a memória encardida do velho terraço, de sonhos de quem viu o movimento dessa rua pulsar tanto tempo atrás. Fui ao fundo das luzes que acendiam o fim do dia e acordei-me de frente a um mar que ninguém nunca ouvira falar existir ali. Além de um verde que não podia mais ver, me contentei a aprender a beleza em cinza.
PS: sugiro ler ao som de "São Paulo" do Morcheeba.
Ry Cooder - Ely Nevada
Boa noite! Ou até qualquer momento... que pode ser daqui a pouco.
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domingo, 2 de setembro de 2012
Um Conto Curto, Ou Uma Novela?
O jeito daquelas moças todas no bar, seus movimentos
rápidos, sorrisos abertos em uma alegria intempestuosa, dessas que enfrentam o
futuro como se esse tivesse a simplicidade de um passado bem resolvido, não
contido, na vontade de continuar a colecionar o novo. Ele, recém-chegado,
desses rapazes de poucos amigos, do tipo que costumam cruzar as ruas do centro
na noite de sábado só pra saber o que tem de legal (ou que deixava de
acontecer) no boteco da próxima quadra. E então parou ali, na porta larga
daquele boteco antigo, cujo dono resolvera mudar toda a cara do lugar. De
alguma forma dera certo, casa lotada. Nova roupagem do espaço, novas cores,
luzes e gente, sobretudo agora, com aquelas meninas de riso fácil, pele
brilhante e olhares de desafio. Parou um pouco, iria entrar, precisava de uma
cerveja, precisa de uma cerveja urgente, e daquele lugar. Ele, como quase todo
mundo que deslizava por aquelas ladeiras nesses dias estrelados (e lotados) de
verão, não tinha nada de impressionante, sua fisionomia e roupas o confundiam
com qualquer um daqueles moços que perambulavam buscando qualquer diversão,
além do tédio das coisas pra fazer que a semana maldosamente lhe destinara.
Numa dessas mesas animadas de gente fagueira, cruzou
com um olhar antigo, desses que guardam segredos de certo momento da vida, que
serão encobertos propositalmente por muitas camadas de novas sensações,
desejos, desapego, covardia, coragem e, porque não, amor. Não acreditava no que
via: não ela, não ali. Havia pensado muitos anos no quanto esse olhar o
comovia, revoltava, cativava... Destruía-lhe. A separação deles havia sido um
desses marcos definitivos, desses marcados em carne, na qual a injustiça do
tempo se tornava mais evidente ao não querer respeitar nada, nem a idade, nem o
frescor das expectativas juvenis, dos planos e conquistas inacreditáveis até
aquele então. Já não reconhecia ninguém que a acompanhava, nem o cara de meia
idade com jeito de professor de filosofia, nem a mulher descolada... Artista
plástica? Nem os outros, leves demais para ele, para o peso de uma juventude
malhada por responsabilidades em uma rotina estoica de fuga diária pra qualquer
coisa que não permitisse pensar o devaneio. Sua única exceção, as noites de
sexta. O ato de sair do trabalho para as
ruas movimentadas da noite que caia, o seduzia para sonhos dolentes e
emudecidos há muito tempo.
Aquele encontro na verdade era a história do
reencontro de dois olhares que não se podiam mais. Naquela noite uma verdade
qualquer da qual ninguém mais falava, nem tão pouco precisava, refletiu-se
naqueles olhos castanhos, parou o tempo, cravou-lhe as unhas compridas no
peito, marcou-lhe o coração com aquele batom vermelho, daquele carmim sanguíneo
belo, mortal como uma flor roubada na saída do colégio. Aquele olhar! Como a
cena “daquele filme” do Wood Allen que ela tanto gostava. Nada daquilo estava
no seu roteiro, nada daquilo deveria acontecer, um dos dois poderia estar
vivendo sua vida longe, numa dimensão paralela, onde ninguém precisasse lembrar
que existia algo como a paixão.
Daquele final
sem final, no qual um rápido cruzar de olhares e um meio sorriso foram toda a
história de fato que ainda poderia acontecer entre eles. Restou-lhe a sensação
que a vida era breve como um conto curto, assim como ela sempre achou que
fosse, quando, nesse momento, ele estivesse mais propenso a pensar a vida como
a sucessão de capítulos, uma novela, na qual viveríamos as idiossincrasias de
um roteiro que muda o tempo todo, assim, até o fim.
Recuou, não tomou sua cerveja. Não ali, não naquele
bar... Havia um outro na quadra seguinte o qual o dono ainda não reformara...
seus olhares poderiam esperar pelo próximo reencontro, a cerveja não.
sábado, 1 de setembro de 2012
Marilena Chauí - A Ascensão do Neo Conservadorismo da Classe Média Paulistana (ou, brasileira)
A ascensão de um paradigma neo conservador fundado
em uma profunda ideologia estética e privatista...
Em outras palavras, estamos ferrados! O espaço
público reduzido ao "você é velho, feio, sujo e malvado e... pobre”.
Pense a respeito.
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