Ela não
sabia ou parecia delicadamente ignorar o quanto sua presença o desestabilizava.
A voz dela, não sem algum grau de malícia, naquele tom suave, quase de menina,
pronunciava seu nome como um diminutivo único. Ele, quase apelava em súplicas
pra si, não correspondidas claro, para ouvir aquilo se repetindo durante um dia
inteiro, ou, pelo menos, mais uma vez. Mais uma vez era a senha do ciclo que
parecia não querer se completar de coisas que parecem querer sempre parecer o
oposto, ou o distante, quando são na verdade, o que aparentam. Assim, como
manteiga derretendo no pão quentinho, algo que não pode ser negado por nenhuma
filosofia, além do que indica o cheiro de fome prestes a ser saciada. Não sabia
por onde andava durante todo o tempo que demoraram a se ver, na verdade não o interessava.
Tudo se resumia ao encontro, o agora como realização de um micro conto de algum
blog pouco lido, meio adolescente, falando de amores impossíveis, sentimentos
contraditórios e pessoas que não podem ficar juntas.
Neste dia
eles não se viram sob o Sol, rodando sem rumo e falando trivialidades em alguma
rua da cidade, ou mesmo em alguma casa de algum conhecido comum. A companhia tocara inadvertidamente. Susto, pois tinha
estranheza a visitas, sobretudo as imprevistas. Ninguém o visitava. Quando ela
identificou-se, o ímpeto de liberar imediatamente a porta confundiu-se com a
surpresa quase surreal daquele momento. Ela em sua casa! Embora achando que seria
capaz, e um dia o fizesse, nunca o realizaria. Ledo engano fê-lo, ela estava
ali. Ela estava ali e iria falar o nome dele daquela forma, e o olharia com
aquele olhar de ternura que esconde algo que não pode ser revelado, não
obstante, claro como um cristal. Aquele olhar quente, escuro brilhante,
profundo, que tão bem refletia o mundo de uma forma diferente, o jeito dela.
Nessa primeira vez, pelo menos ali, em seu território, nem os livros, nem a
cama, nem cadeiras, nada se prendia mais ao chão. Tudo parecia convergir pra
ela, aquele ponto de fuga de gravidade infinita e cabelos soltos ao tempo.
Ela estava
ali como uma primeira vez de todas as vezes que tudo deveria ter acontecido
desde o princípio dos tempos, bastou um passo para nada mais ficar no lugar. Em
uma foto que lhe enviou uns dias depois da insólita visita, dizia-lhe apenas um
“eu te amo”, assim, a flor da pele, binário, único na necessidade de dizer algo
que não se apagará, mesmo à distância.
Mesmo que não pudesse mais dizê-lo.
"Mesmo que não pudesse mais dizê-lo."
ResponderExcluirVanVan,
ResponderExcluirTenho reparado na ação de seus contos, mínima em acontecimentos, máxima em expressão. Há sempre um amor ausente, uma saudade incontida, uma delicadeza no olhar. Há sempre um amor sublime, um desejo carnal, uma vontade implícita de juras de amor eterno, enquanto dure. Você é o escritor dos pequenos momentos e das grandes paixões.
É isso.
Dimas