terça-feira, 25 de setembro de 2012

De Gravidade Infinita



Ela não sabia ou parecia delicadamente ignorar o quanto sua presença o desestabilizava. A voz dela, não sem algum grau de malícia, naquele tom suave, quase de menina, pronunciava seu nome como um diminutivo único. Ele, quase apelava em súplicas pra si, não correspondidas claro, para ouvir aquilo se repetindo durante um dia inteiro, ou, pelo menos, mais uma vez. Mais uma vez era a senha do ciclo que parecia não querer se completar de coisas que parecem querer sempre parecer o oposto, ou o distante, quando são na verdade, o que aparentam. Assim, como manteiga derretendo no pão quentinho, algo que não pode ser negado por nenhuma filosofia, além do que indica o cheiro de fome prestes a ser saciada. Não sabia por onde andava durante todo o tempo que demoraram a se ver, na verdade não o interessava. Tudo se resumia ao encontro, o agora como realização de um micro conto de algum blog pouco lido, meio adolescente, falando de amores impossíveis, sentimentos contraditórios e pessoas que não podem ficar juntas.

Neste dia eles não se viram sob o Sol, rodando sem rumo e falando trivialidades em alguma rua da cidade, ou mesmo em alguma casa de algum conhecido comum. A companhia tocara inadvertidamente. Susto, pois tinha estranheza a visitas, sobretudo as imprevistas. Ninguém o visitava. Quando ela identificou-se, o ímpeto de liberar imediatamente a porta confundiu-se com a surpresa quase surreal daquele momento. Ela em sua casa! Embora achando que seria capaz, e um dia o fizesse, nunca o realizaria. Ledo engano fê-lo, ela estava ali. Ela estava ali e iria falar o nome dele daquela forma, e o olharia com aquele olhar de ternura que esconde algo que não pode ser revelado, não obstante, claro como um cristal. Aquele olhar quente, escuro brilhante, profundo, que tão bem refletia o mundo de uma forma diferente, o jeito dela. Nessa primeira vez, pelo menos ali, em seu território, nem os livros, nem a cama, nem cadeiras, nada se prendia mais ao chão. Tudo parecia convergir pra ela, aquele ponto de fuga de gravidade infinita e cabelos soltos ao tempo.

Ela estava ali como uma primeira vez de todas as vezes que tudo deveria ter acontecido desde o princípio dos tempos, bastou um passo para nada mais ficar no lugar. Em uma foto que lhe enviou uns dias depois da insólita visita, dizia-lhe apenas um “eu te amo”, assim, a flor da pele, binário, único na necessidade de dizer algo que não se apagará, mesmo à distância. 
Mesmo que não pudesse mais dizê-lo.

2 comentários:

  1. "Mesmo que não pudesse mais dizê-lo."

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  2. VanVan,

    Tenho reparado na ação de seus contos, mínima em acontecimentos, máxima em expressão. Há sempre um amor ausente, uma saudade incontida, uma delicadeza no olhar. Há sempre um amor sublime, um desejo carnal, uma vontade implícita de juras de amor eterno, enquanto dure. Você é o escritor dos pequenos momentos e das grandes paixões.

    É isso.

    Dimas

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