Praça Rio Branco, João Pessoa-PB |
Naqueles dias a garota de riso fácil e olhar
faiscante, com jeito de sambinha no fim da tarde de sábado, estava distante e
triste. Pelo que via, quando ela passava pela rua, havia algo diferente, como se
naquele momento a vida houvesse tirado repentinamente aquele rock que parecia
tocar no fone de ouvido invisível que sempre a acompanhava e que transformava
sua passagem em clima de festa. E assim, nessa seriedade, o momento do encontro
com ela, parecia agora algo sério, soturno como um blues, dolente de tão lindo,
pois que até a tristeza, era capaz de inspirar quando ela chegava.
Havia algo errado. Não, aqueles encontros já não
correspondiam ao que seria razoável esperar de tanta alegria que seguia até pouco
os passos dela, daquilo que fazia sua assinatura, mais, o rosto mais feliz
quando dizia alto o nome dele. Mas ai estava o problema, ele não sabia, mas a
vida não era assim tão razoável. Certa noite ele já havia experimentado uma
pequena porção das formas desconcertantes através das quais a realidade pode dar
diversos olés nas nossas expectativas e dizer ao que veio de uma forma absurda.
Mas não daquela forma, era demais! Não da forma como os fatos foram expostos a
ele e do que pôde entender daquele bilhete lido tão tarde da madrugada, quando
chegava bêbedo de algum bar.
As repetidas leituras das mesmas parcas linhas não
ajudaram a esclarecer nenhum sentido, e pensava: “aquilo não podia estar
acontecendo com ela!” A cada frase do que podia ser dito em um espaço tão exíguo,
pensava nos dias que ela ainda passará sobre efeito daquelas circunstâncias.
Queria falar-lhe, mas não tinha como chegar até ela,
pensou em escrever-lhe e aventurou-se numa carta na qual ficasse claro seu
apreço, preocupação... Enfim, todos os adjetivos que podia agrupar para
falar-lhe daquele amor instantâneo quando ela cruzava a praça, no momento que
parava e acenava-lhe como se lesse seus pensamentos.
Queria aquele sorriso no rosto dela novamente. Ansiava
por conseguir escrever uma carta pra moça de ricos lábios carmim que dissesse
as coisas certas, as flores e estrelas cadentes que acompanham as missivas inesperadas e que nos falam de mundos atrás de mundos, e da necessidade que ela
estivesse de volta e que a convencesse de que as dores e sustos do mundo não
passassem apenas de “PS’s”, para lembrar que o mais importante já havia
sido dito nas linhas acima. E que o mundo erra, e que às vezes os “mesmos erros”
são as repetições involuntárias de coisas que já não nos dizem mais repeito.
"Ricos lábios carmim"
ResponderExcluirVanvan,
ResponderExcluirA luz da praça, nesta foto, dá um tom de nostalgia, de saudade e até de tristeza. Tristeza da ausência de um sorriso, da falta de alegria momentânea. E o amor é isso, a tentativa de resgate "para lembrar (...) que o mundo erra e (...) e são repetições involuntárias de coisas que já não nos dizem mais respeito". Bonito isso.
Dimas Lins