Chegou do seu turno ao final da madrugada. Ela
estava, como sempre, acordando pra ir trabalhar, pegar o primeiro trem. Tomaram
café da manhã juntos, ele trouxe o pão da padaria que ainda mal abrira.
Quentinhos, o pão, o café, as mãos entrelaçadas.
Pouco se falaram, parecia que
a falta de tempo, o cansaço, a saudade impediram todo o resto. Apenas se olharam,
assim, de mãos dadas, braços estendidos através da pequena mesa branca de fórmica.
Não puderam demorar-se mais. Já à porta, um beijo rápido, intenso. Um beijo de
saudade, de paixão, resignação e revolta, hora do adeus, hora de perder um amor
para o mundo.
Já no trem, apertada entre centenas de outras almas vendidas à vida
pra levar, lembrou-se, hoje fazia três anos que se conheceram. O trem seguia
rápido rumo ao Centro, devorando cenários de uma periferia sem sonhos, casebres
de zinco, muros sujos, terrenos baldios e córregos esquecidos – mau cheiro.
Adoraria poder ir ao cinema com ele naquele dia.
lindo, real, sensível, das coisas que a gente vive, treme, reclama e elucida.
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