Acordou de ressaca em pleno meio da semana. Caminhou
cambaleante até o banheiro e fixou-se em sua própria imagem no espelho, com
pouco gosto, diga-se de passagem. Alguns urgentes goles d’água da torneira e o
esforço seguinte de apertar a pasta na escova de dente. Pensou em quanto deveria
estar péssimo, pois, por dentro, sentia-se a própria soma de todas as promessas
de melhoras de si mesmo quebradas – pra toda a eternidade.
Manhã alta já. Artista em crise criativa de si mesmo
tentava elaborar com muito esforço um roteiro mínimo dos eventos ocorridos na
noite, madrugada, começo de manhã passados. As pistas do que havia ocorrido estavam espalhadas em sua
cabeça assim como pelos lados no quarto, via agora, sandálias, uma meia calça,
calcinha – tipo shortinho, por sinal, um indicativo de originalidade em meio
a um mundo de fios dentais sem identidade -, e, finalmente, ela, sobre a cama!
A desorientação cedeu instantaneamente a uma
recuperação de flashes e recortes de falas, movimentos, gestos e... sons. A
novata do setor jurídico! Dormia ainda da forma que bem lhe cabia, esparramada
feito uma gata mesmo que era, a cama mal lhe cabia. Parecia muito bem, dormia
como se estivesse em casa.
“Nossa, aquelas caipiroskas e o papo sobre Woody Allen ontem à noite...”. “Ela não gosta de Wood Allen!!! Não pode estar certo”.
Nesse momento, ela começou a se mexer e fazer menção
de acordar. Ele voltou correndo para a junto da gata manhosa estirada na cama.
Woody Allen fica pra hora do café mais tarde.
Bem mais tarde.
As doses de bebida na cabeça, o esforço para reconstruir a cena, a boca seca, o estômago vazio, mas a cama cheia.
ResponderExcluirAmor casual, sexo casual, vida casual. Ela não gosta de Wood Allen? Bem, olhando o lado da cama tão bem preenchido, certamente a resposta vem com outra pergunta: E daí?
Dimas