segunda-feira, 16 de julho de 2012

Na Estrada

Paris, Texas  (Win Wenders)
Estava longe. Aquela estrada que tomara não o conduzirá a lugar nenhum que não ao ponto onde suas escolhas apontavam para a realidade na qual não escolhera nada, a vida o fizera. 
Dizia para si mesmo um tempo atrás enquanto tomava um café: 
- O futuro só pode ser o passado com toques de surpresa, não há outra matéria no mundo capaz de gerar nada. 

Seu vaticino, por demais pretensioso, não alterou em nada a ordem de vai-e-vem lento naquele Café barato do Centro daquela cidade pequena. Estava há tempos na estrada, suas desilusões se juntaram a um ponto no qual sua mente, como sua pele clara, estavam curtidas, sem elasticidade, quebradiças, se soltando ao vento.

Não acreditava muito no que dizia, enfim. Nem isso. Sobrava pouco depois de tanto tempo. Sua memória era falha demais, descobrira um tempo atrás. Os lapsos como grandes crateras, lhe causavam um assombro terrível pelo medo de perder ainda mais enquanto avançava. 

A estrada permitia o luxo de pensar bastante, o amor, a perda, a sorte, o destino, a loucura, o vazio. Muitos passarão a vida sem experimentar quase nada de todas essas situações e as sensações que lhes correspondem. Por azar, pensou, experimentara todas. Alquebrou-se na tragédia, desistiu-se no vazio. 

Passou então a andar pelo mundo, um perdido entre estradas de terra e cidades quase que esquecidas. 

Seu último poema de amor seria escrito de barro e milhas percorridas em noites de luar. 
Em seu último suspiro provavelmente, ele lembrou, e chamou sozinho pelo nome dela.


ps: não sabia fazer poemas, escrevia apenas...

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