Van Gogh - Starry Night |
Havia uma brecha no tempo naquele terraço à noite. Sob a luz
intensa daquela Lua cheia, algo na rotação da terra se alterou, gravidade,
tempo, magnetismo. Linhas de força a muito em vibração recôndita, se estilhaçaram
frente à tamanha solicitação de algo que não podia mais ser adiado. Quando os
braços daquela moça morena se acomodaram ao redor do pescoço dele também a atmosfera
e todo o ar do mundo pareceram desaparecer. Enquanto ele delicadamente afagava
seus cabelos, sentia que a luzes da cidade ao longe, se dissolviam em borrões
amarelos, não precisava mais enxergar. Via demais naquele momento de olhos tão
cerrados. Via pelo cheiro dela, olhava através do toque suave de suas mãos, vislumbrava
pelo retorno firme ao contorno de músculos, ancas, quadris que se queriam ali,
apenas serem consumidos por um abraço sem fim. E se beijaram. Permaneceram
assim num só contínuo, na noite a qual tudo saiu de órbita e pareceu apontar uma
razão para estar, mesmo sem entender, mesmo sem pensar em amanhã, mesmo que o
som de sua respiração ofegante dissesse que, nada mais importava, além de ir-se
naquele suspiro profundo onde suas bocas procuravam desesperadamente achar
tempo onde nem ar existia. Queriam encontrar mesmo o quê? Antes do fim da noite
se foram. Alguém apostou que voltariam ali um dia. O Universo perderia novamente
seus azimutes e se acharia. E outro alguém, que soube disso já como lenda, muito
tempo depois, garantiu que havia apenas eles ali e que se acharam. De algum apartamento nas redondezas
aquela música tocava novamente, Let It Be... Sempre ela, desde sempre.
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